quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"Limpe os pés antes de entrar nessa lona sagrada", Herbert Vianna

Tudo começou com uma verdadeira romaria quinhentos artistas sedentos por um espaço onde pudessem mostrar sua arte. A Primeira Surpreendamental Parada Voadora saiu da Praça Nossa Senhora da Paz rumo à ponta do Arpoador para saudar a inauguração do mais novo espaço cultural da cidade, o Circo Voador.



Primeira Surpreendamental Parada Voadora

 A tenda do Circo Voador foi estendida, pela primeira vez, em janeiro de 1982 na praia do Arpoador, Rio de Janeiro. Administrado pelo produtor Perfeito Fortuna, o espaço logo se firmou como o principal celeiro de movimentos artísticos experimentais da época. Foi sob essa lona, por exemplo, que o Barão Vermelho e a Blitz foram revelados ao público. Foi lá também que surgiu um forte movimento teatral, liderado por Nelson Motta, Asdrúbal Trouxe, o Trombone, e Breno Moroni, o Chacal.



Nos tempos do Arpoador


Mas a passagem do Circo pelo Arpoador durou pouco. Três meses depois, a prefeitura desmontou a estrutura e pôs fim à fase beira mar. Como alternativa, o governo da cidade disponibilizou algumas opções de terrenos onde o Circo Voador poderia ser realocado. O escolhido foi aquele situado em frente ao Arcos da Lapa. Ali seria a nova sede. Para prestigiar a nova fase, foi promovida a Segunda Surpreendamental Parada Voadora. Em outubro de 1982, o mesmo grupo de artistas tomou as ruas do bairro boêmio para festejar a reinauguração.

Foi nessa mesma época que surgiu a rádio Fluminense FM. Trata-se da primeira rádio carioca dedicada ao rock nacional. Grande aliada do Circo Voador, a rádio lançou nomes como Lobão, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Kid Abelha, entre outros.

 

Primeiro show do Legião Urbana no Circo Voador em 1984


Mas no ano de 1996, para a surpresa de todos, o Circo Voador, principal palco do rock nacional, teve seu alvará cassado e foi fechado pela prefeitura. "Ninguém sabe o motivo direito, mas já ouvi dizer que foi uma questão política mesmo", diz Vivien Drumond, assessora de imprensa da casa. O que se diz é que a concessão foi retirada e o lugar interditado logo depois de um show do Ratos de Porão e do Garotos Podres. No entanto, não se tratava de um show qualquer. Naquele momento, Luiz Paulo Conde, sucessor do então prefeito César Maia, comemorava sua vitória nas eleições municipais e teve de escutar as vaias do público ali presente.

A consequência do mal estar político foi o fechamento até julho de 2004, quando foi reconstruído. O novo projeto é capaz de abrigar até 2.500 pessoas, como afirma Vivien Drumond. E mais, o Circo Voador passa a fazer parte da Área de Proteção do Ambiente Cultural dos Arcos da Lapa, como reconhecimento de sua absoluta importância para o cenário cultural da cidade do Rio de Janeiro.


Texto da lei que estabelece a Área de Proteção do Ambiente Cultural dos Arcos da Lapa 

Desde então, o Circo vem sendo administrado, de forma independente, pela Organização Não-Governamental Circo Voador. Mas, sob a nova direção, pouco mudou. O Circo retomou seu espaço no cenário cultural carioca. Hoje, a casa também é aberta para exposições, projetos sociais, além de oferecer diversos cursos. Enfim, a lona sagrada conseguiu sair do imaginário carioca e, para a alegria de todos, voltou a se tornar realidade.


Site oficial do Circo Voador